Treze dias após o BC (Banco Central) elevar a taxa básica de
juros nacional de 8,5% ao ano para 9%, os seis maiores bancos subiram seus
empréstimos pessoais bem mais do que o 0,5 ponto percentual da Selic. A
diferença chegou a até 9,84 pontos percentuais, aumento que supera em 19 vezes
o da Selic. Foram considerados para a análise a Caixa Econômica Federal, o
Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e HSBC.
A Selic é a referência do custo de crédito. Por isso, os
juros bancários acompanham os movimentos de alta ou queda da taxa. É a
ferramenta que o governo federal tem para segurar ou afrouxar a oferta de
empréstimos no País.
O pesquisador do Instituto Assaf Fabiano Guasti Lima, que
ministra aulas na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, avaliou que a Selic é como a
bandeirada do táxi. “Toda vez que sobe, todos os outros juros, como o custo da
corrida, tendem a aumentar.”
Outro ponto que explica o maior aumento é a individualidade.
“Os bancos fazem uma espécie de análise do histórico do cliente, o chamado
rating, e se ele estiver com muitas dívidas ou até com registros de inadimplência,
provavelmente os juros serão maiores.”
O BC deixa claro como descrição de seu levantamento que, “em
uma mesma modalidade, as taxas de juros podem diferir entre clientes de uma
mesma instituição financeira. Taxas de juros variam de acordo com fatores
diversos, tais como o valor e a qualidade das garantias apresentadas na
operação, a proporção do pagamento de entrada da operação, o histórico e a
situação cadastral de cada cliente e o prazo da operação, entre outros”.
Conforme as informações do BC, o Bradesco teve a maior
elevação de juros nos 13 dias, com alta de 9,84 pontos percentuais. A
instituição financeira cobrou, entre os dias 5 e 11, em média, 81,14% ao ano, o
mesmo que 5,08% ao mês, por seus empréstimos pessoais, excluindo os consignados.
Na semana anterior à decisão de engorda da Selic, o banco taxou a operação em
71,3% ao ano, ou 4,59% ao mês.
Por sinal, a instituição também aparece na última pesquisa
do Procon-SP, coletada no dia 3, com os maiores juros nos empréstimos pessoais.
Segundo o levantamento, a média era de 107,46%. Este estudo considera prazo
para liquidação de 12 meses, taxas máximas pré-fixadas para clientes
não-preferenciais e independente do canal de contratação. O Bradesco não quis
se manifestar sobre o assunto.
A Caixa, na outra ponta, apresentava a menor taxa de juros
na listagem do BC. A instituição financeira pública cobrou de seus clientes,
pelo empréstimo pessoal não consignado, em média 43,26% ao ano na semana
encerrada no dia 11 (o banco reduziu seus juros em 0,26 ponto percentual).
Gerente regional da Caixa, Edvaldo Contin pontua que “essa ação visa manter o
banco com as menores tarifas do mercado, atrair novos clientes e valorizar os
atuais.”
O professor de Finanças Mário Amigo, que ministra aulas na
Saint Paul Escola de Negócios, Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas
Contábeis, Atuariais e Financeiras), Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas) e FIA (Fundação Instituto de Administração), avalia que as
diferenças de juros dos bancos públicos, ante os privados, é estratégica. “É
uma forma de o governo estimular o consumo.” Do ponto de vista de disputa de
mercado, a disparidade entre os bancos tende a gerar melhores condições aos
clientes, destacou o acadêmico.
GREVE - Em meio ao cenário de alta de juros aos empréstimos
pessoais, os bancários entram hoje no 12º dia de greve pela campanha salarial.
Até sexta-feira, 200 agências da região, 44% do total, estavam fechadas, com
2.430 trabalhadores de braços cruzados (33%). Apenas os atendimentos por canais
eletrônicos estão disponíveis.
A paralisação, que já supera a do ano passado (com duração
de nove dias), pleiteia aumento de 11,93%. Os bancos, entretanto, oferecem
6,1%. Hoje, a categoria realiza assembleia para definir os rumos da greve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário